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segunda-feira, 18 de julho de 2011

É possível adotar embriões?



- Um teólogo moral, o padre Thomas Williams, responde

Enquanto continuam aumentando os números de embriões crioconservados, não se detém o debate sobre o que se deveria fazer com eles e por eles, inclusive entre teólogos morais católicos.

É uma questão que o padre Thomas Williams, decano de Teologia no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum de Roma, aborda nesta entrevista concedida a Zenit.

Por que tanto debate em torno à adoção de embriões?

Pe. Williams: Partimos de uma situação «antinatural» que nunca deveria ter existido. A produção e a crioconservação de embriões humanos, que já chegaram a uns 400 mil, representa uma aberração moral, e as pessoas moralmente sensíveis se retraem espontaneamente ante este procedimento.

Muitas pessoas, especialistas em ética inclusive, têm dificuldades para separar esta situação errônea do que moralmente se pode fazer para ajudar estas pessoas neste estado embrionário que já existem.

A adoção de embriões não implica, ao menos de forma subentendida, uma aprovação das modalidades pelas quais estes embriões chegaram à vida?

Pe. Williams: De forma alguma. Quando um casal adota um filho concebido em um ato de violação, consente o casal com essa violência? Supostamente que não. A criança chegou à existência através desse ato terrível, sem culpa alguma por sua parte, é digna de receber afeto e atenção.

É um princípio de ética cristã, e também de um Estado democrático, que todos os seres humanos têm igual dignidade e merecem ser tratados como seres humanos. O que temos que perguntar-nos não é como chegaram à existência, mas o que podemos fazer para ajudá-los.

Dado o estado atual da medicina, a única coisa que pode se fazer para salvar estas pessoas é a gestação no ventre de uma mulher. A maior parte das mulheres não está chamada a fazer este sacrifício, mas as que se sentem chamadas não deveriam desalentar-se de fazê-lo.

Mas não crê que a adoção de embriões só poderá aumentar a produção e conservação de mais embriões?

Pe. Williams: Uma análise ética da adoção de embriões não pode basear-se principalmente nas conseqüências que prevemos. Devemos perguntar-nos o que é o correto que se pode fazer por estas pequenas pessoas.

Às vezes fazer o correto acarreta conseqüências desagradáveis, ou resultados mistos. Mas condicionar nossa atitude para as pessoas pelos possíveis efeitos que poderia ocasionar sobre outro será reduzir essas pessoas a meios, e nossa moralidade decairia em um cálculo utilitarista.

Em todo caso, respondendo a sua pergunta sobre os efeitos da adoção de embriões, não creio que esta incentive necessariamente a fecundação in vitro e a crioconservação de embriões.

A promoção da adoção de embriões sublinha a realidade de que todo ser humano, por pequeno que seja, é digno do cuidado da comunidade. Creio que uma crescente consciência desta realidade por parte da sociedade levaria a uma menor produção de embriões.

De fato, a propósito de conseqüências negativas, uma eventual condenação da adoção de embriões conduz a uma mensagem muito contraditória com respeito ao caráter sagrado da vida humana. Por uma parte denunciamos o aborto como o assassinato de pessoas humanas inocentes; por outro rejeitamos ajudar estas pessoas em estado embrionário que já existem. Trata-se de duas atitudes entre si simplesmente inconciliáveis.

Alguns especialistas em ética propuseram que podemos rejeitar a adoção de embriões porque constituiria uma «obstinação terapêutica» que não estamos obrigados a seguir.

Pe. Williams: Isto é um uso impróprio de termos. Recordemos que a obstinação terapêutica refere-se ao tratamento médico inútil em pacientes em estado terminal, não a uma terapia normal para as pessoas.

O Papa João Paulo II afirmou em sua encíclica «Evangelium Vitae» (n. 65) que se pode renunciar ao tratamento médico «quando a morte se prevê iminente e inevitável» e quando as intervenções médicas são «desproporcionais aos resultados que se poderiam esperar» ou impõem uma carta excessiva para o paciente e sua família.

Estas condições não se dão no caso dos embriões congelados.

Qual é a diferença entre «adoção de embriões» e «resgate de embriões»?

Pe. Williams: O «resgate de embriões» refere-se a salvar a vida de um embrião oferecendo-lhe a possibilidade da gestação ao menos até que seja viável e possa viver fora do ventre da mulher. A «adoção de embriões» alude ao mesmo processo, mas acrescenta a intenção de cuidar e educar a criança, considerando-a como um filho próprio.

Obviamente a adoção de um embrião por parte de um casal casado representa a opção preferível, mas desde um ponto de vista ético, o simples resgate de embriões não pode rejeitar-se, ainda que o realizem mulheres solteiras.

A adoção de embrião viola a integridade do vínculo matrimonial?

Pe. Williams: Não mais que a adoção de crianças já nascidas. Obviamente a decisão de adotar um embrião deverá ser tomada pelo casal, e não unilateralmente; qualquer decisão de adoção a toma o casal. A decisão de trazer outra criança ao próprio lar é um ato de caridade cristã, não uma violação do vínculo matrimonial.

Mas a Congregação para a Doutrina da Fé não afirmou expressamente que os esposos têm o direito e o dever de converter-se em pai e mãe unicamente através um do outro?

Pe. Williams: Certamente. Na instrução «Donum vitae», de 1987, a Congregação ensinou que «a fidelidade dos esposos, na unidade do matrimônio, comporta o recíproco respeito de seu direito a converter-se em pai e mãe só através um do outro».

Devemos recordar, em todo caso, que aqui «converter-se em pai e mãe» refere-se ao ato de gerar um novo ser humano, não ao de acolher na própria casa uma criança que já existe. Quando um casal adota um filho, em certo sentido se convertem em seu pai e sua mãe, mas isto não é ao que a Congregação fazia referência.

Qual é o ensinamento da Igreja sobre a adoção de embriões?

Pe. Williams: Pelo momento não existe um ensinamento magistral claro sobre esta questão, e é por isso que há muito debate, inclusive entre teólogos morais.

Espera algum ensinamento claro a respeito em um futuro próximo?

Pe. Williams: Não sou profeta, mas muitas pessoas esperam algum esclarecimento da Santa Sé, assim poderia haver uma declaração magistral em um futuro não muito longe. Às vezes estas coisas requerem tempo.

No caso dos transplantes de órgãos, por exemplo, a aprovação oficial da Igreja chegou literalmente décadas depois que os transplantes fossem tecnicamente possíveis e de que, de fato, fossem praticados por católicos.

E se a Igreja decidisse que a adoção de embriões é imoral?

Pe. Williams: Uma das grandes alegrias de ser católico e teólogo é o dom do Magistério papal, que oferece uma guia segura, especialmente nos âmbitos mais obscuros onde pessoas inteligentes de boa vontade podem não estar de acordo. Esse foi o caso, por exemplo, da profética encíclica «Humanae Vitae», com seu ensinamento sobre a contracepção.

Houve então muito desacordo entre especialistas de ética, e o Magistério assistido pelo Espírito Santo declarou a questão. Se a Santa Sé tivesse de concluir que a adoção de embriões tivesse que se considerar moralmente inaceitável, acolheria essa decisão e tentaria compreender as motivações, para formar melhor minha consciência e explicá-las aos demais.

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